DEFINIÇÃO

A ceratite bacteriana é uma condição grave, que quando não tratada pode levar à perfuração ocular.

As causas mais comuns de ceratites bacterianas são: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae.

O uso de lentes de contato é um importante fator de risco para o desenvolvimento de ceratites infecciosas. Os patógenos mais comuns em usuários de lentes são bactérias (em especial Pseudomonas sp.), fungos e protozoários (Acanthamoeba).

QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico se caracteriza por dor de início agudo, hiperemia conjuntival, fotofobia, baixa visual.

Os fatores de risco predisponentes incluem:

  • Uso de lentes de contato (fator de risco mais frequente);
  • Trauma;
  • Uso de medicações oculares contaminadas;
  • Alterações palpebrais;
  • Alterações corneanas prévias.

EXAME FÍSICO

As ceratites bacterianas geralmente apresentam como infiltrados únicos, e sua evolução depende da virulência do microorganismo causador.

As úlceras corneanas são consideradas graves quando tem (figura 1):

  • 2 mm de diâmetro ou mais
  • Localização central
  • Afinamento maior que 50% da espessura estromal
Figura 1: Ceratite bacteriana por Pseudomonas aeruginosa.
Fonte: BCSC 2020-2021: External Disease and Cornea, p. 268.

EXAMES COMPLEMENTARES

Na presença de uma ceratite infecciosa sempre é necessária a pesquisa do agente etiológico causador para possibilitar o adequado tratamento da infecção.

Geralmente é feito o raspado da úlcera e colocado em lâminas para pesquisa direta do agente, utilizando-se colorações especiais (as mais comuns são Gram e Giemsa). Utiliza-se a espátula de Kimura e a coleta deve ser feita na borda da lesão.

Utiliza-se também placas de cultura para cultivar o microorganismo e possibilitar sua identificação e na sequência tentar avaliar suscetibilidade aos antibióticos utilizados e guiar o tratamento.

Se o paciente já está em uso de terapia antimicrobiana, devemos suspender por 24 horas, se possível, para aumentar a chance de positividade do exame laboratorial (não suspender em úlceras graves e rapidamente progressivas).

Observe na figura 2 abaixo quais colorações e meios de cultura solicitar para a pesquisa de cada tipo de agente suspeito.

Figura 2: Coloração e meio de cultura indicado para identificação de cada microorganismo.
Fonte: Série Oftalmologia Brasileira: Córnea e doenças externas, 3 ed, p. 130.

TRATAMENTO

As ceratites bacterianas são condições graves que colocam em risco a visão do paciente. É por isso que, na suspeita clínica, a terapia deve ser iniciada antes da confirmação diagnóstica.

A conduta inicial na presença de ceratite infecciosa é a suspensão imediata das lentes de contato por atrapalharem a penetração do antibiótico, e realizar a coleta de material para pesquisa de bactérias, fungos e protozoários na tentativa de identificar o agente infeccioso e fazer tratamento adequado.

A terapia inicial consiste no uso empírico de antibióticos de amplo-espectro, como as fluoroquinolonas. As quinolonas de segunda geração (ciprofloxacino e ofloxacino) tem excelente cobertura para Pseudomonas, mas pouca cobertura para gram positivos. Já as quinolonas de quarta geração (moxifloxacino e gatifloxacino) tem melhor cobertura para gram positivos e micobacterías atípicas, mas cobertura limitada para MRSA.

Inicia-se com 1 gota a cada 30-60 minutos, mas em casos severos pode ser necessário administrar 1 gota a cada 5 minutos durante os primeiros 30 minutos.

Em casos de úlceras consideradas graves, devemos lançar mão dos antibióticos fortificados (figura 3).

Figura 3: Antibióticos fortificados para o tratamento de ceratite bacteriana.
Fonte: Série Oftalmologia Brasileira: Córnea e doenças externas, 3 ed, p. 131.

Quando o tratamento é efetivo, a cultura torna-se negativa após 48 a 72 horas. À medida que o quadro evolui de forma favorável, deve-se procurar reduzir a quantidade de drogas para reduzir a toxicidade corneana.

O uso de corticosteroides em associação à antibioticoterapia é controverso, mas quando optado por ser utilizado, deve-se ter um monitoramento mais próximo do paciente. Começar com doses moderadas, a cada 6 horas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Série Oftalmologia Brasileira: Córnea e doenças externas, 3 ed.

BCSC 2020-2021: External Disease and Cornea,

Author

Médica formada pela Universidade Federal de Goiás. Residência Médica em Oftalmologia no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás. Fellowship em Glaucoma clínico e cirúrgico no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás.

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