O ceratocone é uma das doenças mais comuns do nosso dia-a-dia como oftalmologistas. Não tão comum hoje em dia é a grave manifestação em casos avançados de hidropsia aguda. Mesmo para os não especialistas em córnea, é importante sabermos conduzir esses casos na urgência, aliviando as queixas do paciente naquele momento, para que possamos encaminhar ao colega especialista posteriormente, se necessário.

DEFINIÇÃO

A hidropsia aguda associada ao ceratocone é provocada pela ruptura da membrana de Descemet com consequente edema agudo e perda da transparência da córnea (figura 1). Ela ocorre em pacientes portadores de ceratocone severo, no qual a ectasia e protrusão da córnea é tão intensa que supera a resistência da Descemet.

Hidropsia aguda leucoma cornea
Figura 1: Hidropsia. (A): Edema localizado. (B) Edema corneano difuso. (C) Leucoma corneano após o quadro agudo de hidropsia.
Fonte: Kanski: Oftalmologia clínica, 8 ed. p. 335.

QUADRO CLÍNICO

A hidropsia aguda caracteriza-se pelo surgimento súbito de piora da visão, hiperemia, fotofobia e lacrimejamento.

Fatores de risco

É mais frequente em pacientes portadores de síndrome de Down.

A rotura na Descemet geralmente cicatriza espontaneamente em até 3 meses, levando assim à resolução do edema de córnea, porém, com o surgimento de leucoma. Pode haver desenvolvimento de neovascularização corneana.

Hidropsia aguda ceratocone
Hidropsia aguda
Fonte: BCSC 2020-2021: External Disease and Cornea, p. 164.

TRATAMENTO

  • Agentes hiperosmóticos tópicos: Cloreto de sódio 5% de 12/12h até a resolução.
  • Lente de contato terapêutica ou oclusão
  • Agentes cicloplégicos podem aliviar a dor: Ciclopentolato 1%
  • Inibidores da produção do humor aquoso podem reduzir o fluxo de fluido para a córnea: Brimonidina 0,1% 12/12h.
  • Injeção de ar ou gás (SF6 ou C3F8) pode agilizar a resolução do quadro
  • Não é uma indicação de ceratoplastia de emergência. No momento que for indicado, deve-se optar pela ceratoplastia penetrante.

Seguimento a cada 1 a 4 semanas até a resolução do quadro agudo.

REFERÊNCIAS

BCSC 2020-2021: External Disease and Cornea, p. 164.

Manual de doenças oculares do Wills Eye Hospital, 6 ed, p. 100.

Krachmer et al. Cornea: Fundamentals, Diagnosis and Management, 3 ed. p. 878.

Série Oftalmologia Brasileira: Doenças externas e córnea, 3 ed, p. 366.

Kanski: Oftalmologia clínica, 8 ed. p. 335.

Author

Médica formada pela Universidade Federal de Goiás. Residência Médica em Oftalmologia no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás. Fellowship em Glaucoma clínico e cirúrgico no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás.

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