A dacriocistite é uma das condições em que o oftalmologista precisa prescrever tratamento orais, e em alguns casos até mesmo indicar uma internação, e isso inevitavelmente nos gera dúvidas por não ser algo que realizamos todos os dias. Nesse contexto preparamos esse conteúdo de revisão sobre o tema para auxiliar os colegas oftalmologistas na condução desses casos.

DEFINIÇÃO

Geralmente o quadro de dacriocistite aguda acontece em pacientes com quadro de dacriocistite crônica e obstrução parcial do sistema lacrimal de drenagem.

Com a válvula de Rosenmuller patente (entre o canalículo comum e o saco lacrimal), e uma obstrução lacrimal baixa, toda a região do saco lacrimal torna-se um sistema fechado com acúmulo de lágrima e secreção, favorecendo a inflamação e proliferação bacteriana. Portanto o principal fator de risco para a dacriocistite aguda é a obstrução do ducto lacrimonasal.

Os principais agentes etiológicos da dacriocistite são bactérias gram-positivas e aeróbias, germes que acometem tipicamente as vias aéreas altas e seios paranasais e, portanto, regiões próximas do sistema lacrimal de drenagem, sendo o S.pneumoniae e o Staphylococcus sp os mais frequentes.

Bactérias gram-negativas como Haemophilus influenzae e Pseudomonas aeruginosa, bactérias anaeróbias e alguns fungos também podem causar dacriocistite, porém são causas bem menos frequentes.

Causas incomuns incluem divertículos do saco lacrimal, dacriolitos, cirurgia nasal ou si- nusal, trauma e, raramente, um tumor do saco lacrimal.

QUADRO CLÍNICO

A dacriocistite aguda é caracterizada por um quadro de inflamação intensa acometendo a região do saco lacrimal e cursa com edema, tumefação em canto medial, dor local e pode vir acompanhada de saída de secreção mucóide ou purulenta pelos pontos lacrimais (figura 1).

Dacriocistite aguda
Figura 1: Dacriocistite aguda
Fonte: BCSC 2020-2021: Oculofacial Plastic and Orbital Surgery, p. 315.

DIAGNÓSTICO

Obter coloração de Gram e cultura em ágar-sangue (e cultura em ágar-chocolate em crianças) de qualquer secreção espremida do ponto.

Considerar TC da órbita e dos seios paranasais em casos atípicos ou graves de dacriocistite e que não respondam aos antibióticos adequados.

TRATAMENTO

O tratamento baseado na epidemiologia deve focar nas batérias aeróbias gram-positivas. Quando não há uma resposta adequada pode-se pensar na possibilidade de infecção por bactérias gram-negativas ou resistência ao antibiótico.

Diante de um quadro de dacriocistite aguda o tratamento deve ser clínico, com o uso de antibióticos sistêmicos para combater bactérias Gram-positivas principalmente, além de anti-inflamatórios não hormonais, analgésicos, e compressas mornas para auxiliar na drenagem do abscesso que se forma no saco lacrimal.

A sondagem e irrigação do sistema canalicular devem ser evitadas até que a infecção desapareça, uma vez que na maioria dos casos a irrigação não é necessária para estabelecer diagnóstico e é extremamente dolorosa no cenário de uma infecção ativa.

O uso de antibióticos tópicos possui valor limitado por não penetrarem suficiente no tecido mole adjacente.

Obrigatoriamente indica-se dacriocistorrinostomia após a regressão da inflamação aguda, porém não é indicada de caráter emergencial.

Dacriocistite em crianças com mais de cinco anos e com menos de 40 kg

  • Afebris, bom estado geral e seguimento confiável: Amoxicilina/clavulanato 25 a 45 mg/kg/dia, VO, divididos em duas doses diárias para crianças, com dose máxima diária de 90 mg/kg/dia.
  • Febris, estado geral ruim, quadro moderado a grave, seguimento não confiável: Hospitalizar e tratar com cefuroxima, 50 a 100 mg/kg/dia, IV, divididos em três doses diárias 

Dacriocistite em adultos

  • Afebris, bom estado geral, seguimento confiável: Cefalexina 500 mg, VO, 6/6h por 10-14 dias. Tratamento alternativo: Amoxicilina/clavulanato 500 mg, VO, 8/8h por 10-14 dias.
  • Febris, quadro grave ou seguimento não confiável: Hospitalizar e tratar com cefazolina 1 g, IV, 8/8h.
  • A depender da melhora com o tratamento com os antibióticos IV, estes podem ser substituídos por antibióticos VO equivalentes, devendo a terapia antibiótica sistêmica ter duração total de 10 a 14 dias.
  • Aplicar compressas quentes e massagear suavemente a região cantal interna 4x/dia.
  • Analgésicos, conforme a necessidade.
  • Considerar incisão e drenagem para um abscesso que esteja flutuando.
  • Reavaliar diariamente, até que a melhora seja confirmada. Se a condição de um paciente ambulatorial piorar, a hospitalização e o uso de antibióticos IV estão recomendados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BCSC 2020-2021: Oculofacial Plastic and Orbital Surgery

Manual de doenças oculares do Wills Eye Hospital, 6 ed, 144-146.

Author

Médica formada pela Universidade Federal de Goiás. Residência Médica em Oftalmologia no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás. Fellowship em Glaucoma clínico e cirúrgico no Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás.

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